35.1 C
Rondonópolis
segunda-feira, outubro 13, 2025

Buy now

Educação financeira nas escolas: a lição urgente que um Brasil superendividado precisa aprender

O Brasil vive uma epidemia silenciosa que não afeta a saúde do corpo, mas asfixia o orçamento e os sonhos de sua população: o superendividamento. Em um cenário de crédito caro e inflação persistente, os números atingiram um novo e alarmante recorde.

Dados de agosto de 2025 revelam que 71,7 milhões de brasileiros estão com o nome negativado, um contingente 9,2% maior que no ano anterior. Quase 80% das famílias possuem algum tipo de dívida, o maior percentual desde 2022.

Este ciclo vicioso, que aprisiona milhões em juros de cartão de crédito e cheque especial, não apenas destrói o planejamento doméstico, mas também freia a economia do país.

“Se a pessoa está inadimplente, ela não consegue consumir. Isso retarda a recuperação econômica e revela uma falha estrutural”, alerta o economista William Baghdassarian, professor do Ibmec.

Enquanto especialistas apontam a falta de instrução financeira como a raiz do problema, uma solução de longo prazo ganha força nos corredores do Congresso e, principalmente, dentro das salas de aula. A aposta é clara: para curar o Brasil do analfabetismo financeiro, a lição precisa começar na escola.

.O Raio-X de uma Crise Anunciada
Para entender a dimensão da crise, basta olhar para a história de Henrique (nome fictício). Aos 34 anos, ele faz parte da estatística dos negativados, com dívidas que se multiplicam em vários cartões de crédito. Sem nunca ter aprendido sobre juros compostos na escola, ele viu uma bola de neve se formar sem que soubesse como pará-la.

“Quando percebi, já não tinha mais controle. Se eu tivesse tido essa disciplina na escola, talvez tivesse feito escolhas melhores.
Agora, estou tentando recomeçar, mas é muito difícil sair do buraco”, desabafa.

A história de Henrique é a de milhões. Segundo o consultor legislativo Edilson Araújo, o crédito, que deveria ser uma ferramenta para grandes conquistas, tornou-se um perigoso complemento de renda para pagar contas do dia a dia. Some-se a isso o custo exorbitante do dinheiro no Brasil.

“As taxas de juros cobradas, principalmente em operações de curto prazo como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, são absurdamente elevadas”, pondera o professor Carlos Alberto Ramos, da UnB.

A solução começa na lousa
Em Corbélia, no interior do Paraná, uma iniciativa no Colégio Estadual Duque de Caxias mostra que é possível reescrever essa história. Desde a implementação do Novo Ensino Médio, há quatro anos, a educação financeira virou disciplina obrigatória. Ali, os alunos aprendem a montar orçamentos, entendem o poder dos juros e planejam o futuro.

“Eles passam a entender na prática o que é receber um salário, pagar contas e planejar gastos. É uma vivência que transforma a relação deles com o dinheiro”, celebra a diretora Nilcea Schwambach.
Os resultados são visíveis no discurso dos próprios estudantes. Nathalia Sedlacek, 16, aprendeu os cuidados para evitar dívidas. Miguel Vitalli, 15, já organiza suas finanças em planilhas. Arthur Rufatto, 20, ex-aluno, garante:

“A educação financeira me ensinou a controlar meus gastos e planejar meu futuro com mais segurança”.
.

A experiência bem-sucedida se replica em larga escala. Em Minas Gerais, a Secretaria de Educação adotou a disciplina em toda a rede pública.

Em parceria com o programa Aprender Valor, do Banco Central, o estado formou professores e já alcança 175 mil estudantes em quase 6 mil turmas, provando que a política pública é viável.

.Do pátio da escola ao plenário do Senado

O sucesso dessas iniciativas inspira o debate em Brasília. No Senado Federal, uma série de projetos de lei busca tornar a educação financeira obrigatória em todas as escolas do país. O PL 5.950/2023, do senador Izalci Lucas (PL-DF), propõe incluir o tema de forma transversal na educação básica.

(Foto: Geraldo Magela / Agência Senado)

“Precisamos ensinar nossos alunos para evitar o que ocorre hoje: o total descontrole das finanças pessoais”, defende.
Outra proposta, do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), reforça a urgência ao conectar o endividamento juvenil ao crescimento das apostas online. Já o senador Confúcio Moura (MDB-RO) quer destinar 1% da verba de publicidade do governo para campanhas de conscientização, comparando a falta de educação financeira a problemas de saúde pública como o tabagismo no passado.

Para o consultor Edilson Araújo, as propostas são um passo fundamental, mas a aprovação das leis é apenas o começo.

“É necessário investir na formação de professores, no material didático adequado e na mobilização das comunidades escolares”, pondera.
A batalha contra o superendividamento é complexa e seus resultados não serão imediatos. No entanto, ao plantar a semente da consciência financeira nas crianças e jovens de hoje, o Brasil dá o passo mais estratégico para formar uma nação de adultos mais prósperos, autônomos e, finalmente, donos do próprio futuro.

.Fonte: Da redação com Agência Senado

Artigos relacionados

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias