O número de mortos no incêndio que atingiu um complexo residencial de oito torres em Hong Kong subiu para 128, após equipes de resgate encontrarem dezenas de novos corpos durante buscas detalhadas nos prédios carbonizados. Segundo autoridades locais, pelo menos 89 das vítimas cujos corpos foram recuperados permanecem sem identificação, e outras 200 permanecem desaparecidas — o que deve fazer com que o número de mortos aumente nos próximos dias. O incidente, que começou na tarde de quarta-feira, é um dos mais letais da história recente do território. Oito pessoas ligadas à reforma do conjunto de edifícios foram presas nesta sexta-feira.
Segundo o Departamento de Serviços de Incêndio, brigadistas concentraram as operações nos apartamentos de onde foram recebidas mais de duas dezenas de ligações de moradores pedindo ajuda e que não puderam ser alcançados durante o incêndio. O vice-diretor do órgão, Derek Armstrong Chan, afirmou que as descobertas elevaram o total de mortos em 34 nas últimas horas.
Como muitos corpos estão gravemente queimados, a polícia informou que planeja usar testes de DNA para acelerar o processo de identificação. As temperaturas também continuam altas demais para permitir uma investigação completa nos prédios: segundo Joe Chow, comissário de polícia, algumas áreas do complexo ainda atingem cerca de 199°C. Nesta sexta-feira, bombeiros continuavam a resfriar partes do local com jatos d’água para evitar a reignição das chamas.
O diretor dos Serviços de Incêndio, Andy Yeung, informou que alguns alarmes não estavam funcionando no momento da tragédia, e que isso pode gerar consequências legais. O incêndio se espalhou rapidamente após atingir andaimes de bambu cobertos por telas de proteção instalados para obras de renovação, permitindo que as chamas avançassem de uma torre para outra até envolver sete dos oito prédios do conjunto Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, próximo à fronteira com a China continental.
Foram necessárias cerca de 24 horas para que o fogo fosse controlado por completo, em uma operação que mobilizou 2,3 mil socorristas e profissionais de saúde e deixou pelo menos 79 feridos, entre eles 12 bombeiros. Um brigadista morreu durante o combate às chamas.
Negligência grave
A agência anticorrupção de Hong Kong informou nesta sexta-feira que prendeu oito pessoas ligadas à reforma. Os detidos — sete homens e uma mulher, com idades entre 40 e 63 anos — incluem subcontratados responsáveis por andaimes, diretores de uma empresa de consultoria de engenharia e gerentes de projeto que supervisionavam a reforma. A agência realizou buscas nos escritórios dos investigados nesta sexta-feira e apreendeu documentos e registros bancários.
Na quinta-feira, dois diretores e um consultor da empreiteira responsável pela obra já haviam sido presos sob suspeita de homicídio culposo. Ainda não está claro se os oito presos anunciados pelas autoridades incluem os três já detidos anteriormente. A investigação sobre possível corrupção no projeto de renovação foi aberta na quinta-feira, após o incêndio fatal.
As autoridades suspeitam que materiais utilizados nas fachadas dos edifícios não atendiam aos padrões de resistência ao fogo, contribuindo para a propagação incomum das chamas. Em uma das torres não atingidas, policiais encontraram painéis de espuma plástica — altamente inflamáveis — instalados perto dos elevadores. Os painéis teriam sido colocados pela empresa responsável pelas obras, mas o motivo ainda é desconhecido.
Inspeções realizadas antes da tragédia já haviam identificado riscos. Reguladores conduziram 16 vistorias na obra e emitiram repetidos alertas por escrito pedindo que a empreiteira adotasse medidas adequadas de prevenção a incêndios — incluindo um aviso formal enviado na semana passada, segundo o Departamento do Trabalho. A empresa responsável pela obra também atua em outros 11 projetos residenciais em Hong Kong, informaram autoridades.
— Temos motivos para acreditar que os responsáveis da empresa foram extremamente negligentes, o que levou a este acidente e fez com que o incêndio se alastrasse descontroladamente, resultando em inúmeras vítimas — disse a superintendente de polícia Eileen Chung.
O governo determinou inspeções imediatas em conjuntos habitacionais que estejam passando por reformas para verificar se andaimes e materiais de construção cumprem as normas de segurança. Cerca de 4,6 mil pessoas viviam no conjunto residencial de arranha-céus, com oito torres de 31 andares e cerca de 2 mil apartamentos. Desses, 40% teriam 65 anos ou mais. Após o incêndio, pelo menos 500 moradores foram alocados em abrigos temporários.
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, visitou o local do desastre na quinta-feira. Ele já havia ordenado uma inspeção em todos os conjuntos habitacionais que passam por grandes reformas. Em uma declaração relâmpago à imprensa, Lee afirmou que cada família afetada receberia HK$ 10 mil (cerca de R$ 6,8 mil) em auxílio. Ao lado de vários funcionários, também prometeu eliminar gradualmente o uso de andaimes de bambu, substituindo-os por estruturas metálicas.

O presidente chinês, Xi Jinping, expressou condolências às famílias e “pediu que se faça todo o possível para extinguir o incêndio e minimizar as vítimas e as perdas”, informou o canal estatal CCTV.
(Com AFP, Bloomberg e New York Times)


