Em seu depoimento, na última terça-feira (24), à Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Câmara Municipal, que investiga as contas da Santa Casa, a empresária Iracema Dinardi Peixoto, integrante do conselho administrativo do hospital filantrópico, afirmou que os problemas financeiros vivenciados pela unidade de saúde não são apenas por má gestão de contratos, mas sim pelo déficit de pagamentos de serviços realizados que vem se acumulando desde o período da pandemia da Covid-19.
“Pode ter tido falhas de gestão. Mas, não podemos falar que é um problema de gestão. A questão da Santa Casa é de maternidade, UTI, cardiologia, oncologia deficitárias. Então, o problema da Santa Casa não é de contrato, não é de gestão é de déficit que vem de longo tempo, que vem se acumulando desde a pandemia da Covid”, reiterou.
A dívida atual da Santa Casa é avaliada em R$ 70 milhões. Iracema ressaltou que as medidas tomadas pela direção do hospital, desde novembro do ano passado, para cortar gastos de serviços que não são considerados essenciais, já resultaram numa economia de R$ 7 milhões.
A empresária afirmou ainda que os contratos, apontados em depoimentos anteriores como prejudiciais à Santa Casa, não passavam pelo crivo do conselho de administração. Destacou também que, ao contrário do que foi mencionado pelo ex-conselheiro Ernando Cabral, ela não passava a “mão na cabeça” da ex-diretora executiva Bianca Talita Franco.
“Mantinha uma relação profissional de conselheira com a diretora executiva, chamando a sua atenção quando identificava que havia falhas”, atestou a empresária, que disse estar no conselho da instituição desde 2020, sendo que num período chegou a ocupar a vice-presidência do órgão consultivo.
“É uma infinidade de contratos. Mais de 500. Se fosse discutir contrato por contrato precisaríamos ter uma reunião diária. Também pelo estatuto não é uma função nossa…A questão de contrato é uma decisão da diretoria executiva”, ponderou Iracema Peixoto, dizendo que o conselho fiscal, inicialmente, se reunia “pouco”, mas com o passar do tempo passou a ter mais encontros.
Nona testemunha ouvida pela comissão, a empresária afirmou que o conselho se preocupava com a dívida crescente e buscava formas para melhorar a receita, observando que o contrato de prestação de serviços que a Santa Casa tem com o município é o mesmo valor desde 2021.
“Só isso aí gera um déficit violento. De 2022 a 2024 nós temos um deficit de R$ 10 milhões só na UTI. Na maternidade, 37 milhões de 2020 a 2024…”, citou ela, lembrando das “brigas” travadas com a gestão do ex-prefeito José Carlos do Pátio (PSB), sem citar o nome dele, para que os contratos de prestação de serviços fossem revistos.
“Penei, sofri muito na gestão anterior, até mesmo com processo”, pontuou a conselheira.
Emendas
Iracema Peixoto reconheceu ainda que “houve falhas” em contar com emendas parlamentares que não se concretizaram e a demora em tentar adequar a receita com os custos elevados que o hospital vinha tendo.
“A gente nunca sabe quando ela (emenda) vem, quando não vem. Tanto que não veio. Não pode contar com elas. Quando vem não é para custeio, já vem carimbada para investimento”, ponderou.
A depoente falou sobre as denúncias de um suposto desaparecimento de atas mencionadas pelo presidente Jacques Polet e a afirmação feita pela ex-diretora Bianca de que havia uma máfia médica na Santa Casa.
“Não acompanhei, pois estava de viagem e o Jacques judicializou para verificar. Também acho forte este termo máfia. Não concordo”.
Fazenda
Sobre a polêmica venda de uma fazenda, cujos recursos seriam destinados à Santa Casa, Iracema disse ter conhecimento e que o assunto chegou a ser falado dentro do conselho, onde ficou decidida a contratação de um advogado.
“Uma [fazenda] eu sei que tem, que já foi vendida e o dinheiro está depositado em juízo”, comentou, acrescentando desconhecer a existência de uma outra. “Só estou escutando esta conversa, mas não sei de nada”.
Fonte: Valdeque Matos
