As exportações de carne bovina de Mato Grosso para os Estados Unidos sofreram uma queda vertiginosa nos últimos meses, despencando quase 73% entre abril e junho de 2025, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A redução expressiva nos números, que passaram de US$ 27,2 milhões para apenas US$ 7,4 milhões, já antecipa os reflexos do tarifaço de 50% imposto pelos norte-americanos, mesmo antes de sua entrada em vigor no dia 1º de agosto.
Este cenário evidencia um momento delicado para o setor pecuário, que, além de lidar com a queda nas vendas externas, encara agora um mercado interno que deve sofrer variações nos preços e no comportamento da demanda. A boa notícia, porém, é que o consumidor brasileiro pode sentir um alívio nos preços, ao menos temporariamente.
A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, especialmente no setor de carnes, já vinha apresentando sinais de tensão. O anúncio do aumento das tarifas de importação sobre a carne bovina brasileira pelos EUA, feito em junho, acelerou uma reação imediata do mercado. A medida – considerada uma forma de retaliação comercial – atinge diretamente estados exportadores como Mato Grosso, ainda que as vendas ao mercado norte-americano representem apenas 7% das exportações bovinas do estado, segundo o IMEA.
Mesmo antes do tarifaço entrar em vigor, empresas e compradores recuaram, interrompendo ou adiando contratos, temendo prejuízos com os custos adicionais. O setor, que trabalha com prazos de 60 a 90 dias para processar e entregar a carne ao exterior, sentiu o baque quase que instantaneamente. O reflexo foi imediato nas estatísticas: queda de 73% nas exportações para os EUA e retração generalizada no comércio exterior de carne bovina mato-grossense.
A atual desaceleração nas exportações para os EUA ocorre em um contexto de incertezas globais e protecionismo crescente. Apesar da forte queda no comércio com os norte-americanos, Mato Grosso ainda mantém um crescimento de 5,4% nas exportações totais de carnes no primeiro semestre de 2025, conforme dados da Sedec e Secex.
Esse crescimento se deve, em grande parte, à diversificação de mercados: países da Ásia e do Oriente Médio têm ganhado protagonismo nas relações comerciais com o Brasil, motivados pela qualidade dos produtos, certificações sanitárias e investimentos logísticos. Ainda assim, o impacto da perda de um parceiro estratégico como os EUA é significativo, e o mercado observa os próximos movimentos com atenção.
Entre os principais desafios enfrentados pelo setor frigorífico de Mato Grosso está a quebra de previsibilidade comercial. Com contratos longos e cadeias produtivas que exigem planejamento antecipado, as mudanças repentinas de política tarifária afetam toda a logística e produção.
Segundo o presidente do Sindifrigo, o clima atual é de apreensão. “A indústria e os compradores ficam temerosos, recuam e o mercado entra em compasso de espera”, afirma. Outro desafio é o risco de acúmulo de estoque no mercado interno, com impacto direto na rentabilidade dos produtores.
Fonte: Da Redação