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quarta-feira, dezembro 11, 2024

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El Niño poderá afetar produção de alimentos no Brasil, dizem especialistas

A expectativa da Organização Meteorológica Mundial (OMM) é que o fenômeno climático El Niño provoque eventos climáticos extremos e de temperaturas recordes nos próximos meses. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles alertam sobre impactos na agricultura brasileira e na vida dos brasileiros.

O El Niño é responsável pelo aquecimento da temperatura das águas superficiais do Oceano Pacífico. No Brasil, os efeitos do fenômeno climático são sentidos de formas diferentes em cada região.

“Como o El Niño é um aquecimento de uma região normalmente caracterizada por uma temperatura mais baixa do oceano, ele tende a inverter as condições climáticas normais, ou seja, nas regiões que apresentam tendência de seca elas acabam sendo mais chuvosas. Nas mais chuvosas, elas tendem a apresentar mais períodos de estiagem. Porém, o fenômeno ainda está se estabelecendo”, explica o professor Gustavo Baptista, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB).

No Nordeste, o El Niño é responsável pelo aumento do período de seca e na potencialização das queimadas florestais.O agrometeorologista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Trigo Gilberto Cunha alerta para os impactos da estiagem na produção de alimentos para a subsistência da população.

“Na região afeta mais os cultivos de subsistência, principalmente os cultivos de milho e feijão, mas também não se afasta a soja e a cevada que já estão sendo plantadas em vários estados do Nordeste”, destaca Gilberto.

O fenômeno deve provocar um regime de chuvas mais intensas no Sul, o que poderá aumentar os riscos de enchentes e inundações. Na produção o El Niño poderá prejudicar os cultivos de inverno, como trigo, aveia e cevada, segundo o agrometeorologista da Embrapa. “Ele pode ser tanto prejudicial nos cultivos de inverno quanto benéfico para cultivos de verão [soja e milho].”

Preço dos alimentos

Os desequilíbrios provocados pelo El Niño na produção agrícola brasileira poderá afetar diretamente o consumidor final. Plantações prejudicadas pelos extremos climáticos podem gerar uma grande variação nos preços dos grãos.

Segundo o professor e especialista em Meio Ambiente da UnB Pedro Henrique Zuchi os efeitos adversos do El Niño nas regiões brasileiras poderá ter consequências no preço dos alimentos.

“Podemos ter sim uma elevação nos preços, se a chuva vier no período de colheita a gente vai ter uma perda na colheita”, afirma Zuchi. O pesquisador destaca também sobre a necessidade de avaliar as tendências do fenômeno antes da produção de alimentos.

Gilberto Cunha destaca ainda que a produção de alimentos, principalmente de trigo na região Sul, poderá afetar a qualidade e a produção. O que poderá acarretar no aumento de preços nos produtos derivados do trigo, como pães e bolos.

“Dependendo da intensidade do El Niño se ele for muito forte, trouxe muitas chuvas ele pode impactar negativamente a produtividade do trigo e a qualidade”, destaca o agrometeorologista da Embrapa.

Daniel Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil, reforça ainda que a agricultura tem sofrido diretamente com as mudanças climáticas provocadas pelo homem e durante o El Niño a produção de alimentos poderá perder ainda mais.

“Desde 1961, as mudanças climáticas provocadas pelo homem reduziram em 21% a produtividade agrícola global, o que equivale a perder os últimos sete anos de crescimento da produtividade”, afirma Daniel Silva.

Com a mudança na produção agrícola, o especialista do WWF destaca ainda que a exportação de alimentos também poderá ser impactada pelo fenômeno climático. “Tendo mudanças na produtividade e perdas de colheitas, o preço das commodities agrícolas e dos alimentos seriam automaticamente afetados, o que pode contribuir para a inflação no país.”

Novas tecnologias na agricultura

Com o consequência direta nas culturas agrícolas, especialistas destacam sobre a necessidade de investimentos em mitigação e adaptação climática. Entre elas, estão a implementação de técnicas de manejo sustentável e uso eficiente de recursos hídricos.

“A gente pode usar o zoneamento agroeconômico para minimizar os impactos em lavouras, na produção de feijão, de monitoramento de analise de probabilidades de ocorrência de estiagem em algumas regiões. esse desenvolvimento é importante para definir e zonear a base da produção”, ressalta Pedro Henrique Zuchi.

Gilberto Arruda afirma que ao longo dos anos a agricultura brasileira acompanhou o El Niño e passou a se adaptar às suas consequências. No entanto, ele reforça a necessidade de adaptação climática para garantir a produção de alimentos no país.

“A vulnerabilidade ainda existe, o produtor deve fazer uma gestão integrada de riscos, pelo bom uso da tecnologia de produção e na diversificação nas épocas de semiduras, usar cultivares de ciclos diferentes e utilizar cultivares que tenham uma ampla resistência genética”, reforça Arruda.

Aumento das temperaturas

Na última semana, o planeta Terra registrou o dia mais quente da história, desde que as medições em nível mundial passaram a ser realizadas em 1979. Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês), os termômetros registraram uma temperatura média de 17,01° Celsius.

A expectativa dos especialistas é de que o El Niño provoque alterações nas temperaturas durante a sua ocorrência. “O que se verifica durante os períodos de El Niño é uma inversão das condições normais. Se você tem tendência de temperatura mais elevada normalmente, durante o El niño você tende a ter temperaturas mais baixas”, esclarece Gustavo Baptista.

“É importante acompanhar a evolução do fenômeno, pois no período de 2015-16 tivemos o El niño mais intenso da história e a maior temperatura média global. Porém, na segunda-feira [3/7] esse recorde foi batido, com a temperatura média global de 17,01°C e na terça [4/7], foi batido novamente com 17,18°C. Isso pode ser um indício de que o El niño esteja realmente se estabelecendo e pode vir com grande intensidade”, completa o professor do do Instituto de Geociências da UnB.

FOLHA DE DOURADOS

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