Apesar de Rondonópolis ser considerada uma região endêmica para a leishmaniose há vários anos, o registro de duas mortes – de uma criança de 4 meses e outra de um ano em decorrência de leishmaniose visceral na cidade nesta última semana -, voltou a acender o alerta para o problema.
Ao A TRIBUNA, os médicos veterinários Gracielly Zilio e Érico Morais destacam que a prevenção é o melhor caminho para combater a doença, mas esta ainda é negligenciada.
Para combater a leishmaniose, os veterinários apontam que é preciso que a prevenção realmente aconteça e o combate ao mosquito palha, que é o vetor transmissor da doença, é a principal ação de prevenção.
“Sem o mosquito, a leishmaniose não é transmitida. É o mosquito que é o vilão. Não é o cão”, alertou Érico, que acrescenta que o combate ao vetor depende tanto do poder público, com ações de dedetização na cidade, como da população, que precisa adotar as medidas de higiene adequadas.
“O mosquito palha tem como criadouro a matéria orgânica, por isso, manter o ambiente limpo é muito importante”, disse. Entre as orientações está evitar acumular matéria orgânica como folhas e frutos apodrecidos no ambiente, fezes de animais e restos de comida, e manter os quintais organizados são medidas simples que ajudam a evitar que o mosquito se reproduza, evitando assim o ciclo de transmissão da doença.
Além de combater o mosquito transmissor, os veterinários alertam para a importância da prevenção com relação aos cães e também aos gatos, uma vez, conforme destacam, que os felinos também podem contrair a leishmaniose. Para isso, o encoleiramento dos animais é uma das principais medidas de prevenção.
Gracielly ressalta que os cães e os gatos devem usar as coleiras repelentes que são muito eficazes para prevenção da leishmaniose canina e felina. A médica veterinária alerta, contudo, que as coleiras para gatos e cães são diferentes.
“No caso dos felinos, é importante que o tutor busque orientação com um veterinário porque há coleira específica para eles. Os gatos não podem usar a mesma usada em cães”, orienta e destaca que apesar de pouco difundida, a leishmaniose também pode infectar os gatos: “o que acontece é que os gatos têm um sistema imune mais ativado e com isso desenvolve menos sintomas que os cães, mas também podem ter a doença”.
Os veterinários ainda reforçam que abandonar ou matar os animais com leishmaniose não é uma forma de evitar a doença. É preciso combater o mosquito vetor, prevenir a doença com encoleiramento, fazer o diagnóstico precoce da doença e tratar os animais infectados, bem como é necessário que haja educação ambiental da população e o controle da população de cães e gatos.
“O combate à leishmaniose envolve um trabalho que deve ser feito por veterinários, junto com o poder público e à população”, indica Érico.
“A leishmaniose canina e felina podem ser prevenidas com coleiras e existe tratamento para a doença com medicamentos, que controlam os sintomas clínicos da doença e também evitam a transmissão. Há medicamentos hoje em dia com custos mais baixos e que são eficazes”, orienta Gracielly.
CINCO PILARES
Portanto, de acordo com os veterinários, é fundamental que um trabalho conjunto e com foco em cinco pilares para combater a leishmaniose: o combate ao mosquito vetor; o diagnóstico precoce e o tratamento dos animais; educação ambiental; controle da população canina e felina; e, o encoleiramento de cães e gatos.
Por fim, os veterinários reforçam a importância do papel dos tutores dos animais encoleirando os cães e gatos para prevenção, buscando o diagnóstico quando observar sintomas que, conforme destaca Gracielly, podem ser uma simples falta de apetite até sinais neurológicos e lesões nas extremidades como orelhas e unhas. E, realizando o tratamento da doença.
Formas de proteger o cão
O médico veterinário Érico Morais explica que, caso o tutor não possa adquirir a coleira repelente por conta do custo ou por ter vários cães, outra medida eficaz, de baixo custo que pode ser usada é a utilização de produtos à base de deltametrina.
Ele orienta misturar 1 ml de deltametrina em 250 ml de água em um borrifador, e borrifar essa mistura nos cães e nos ambientes uma vez por semana para repelir o mosquito vetor do cão ou até mesmo matá-lo, pois esse produto também pode atuar como inseticida. “Só não pode usar em gatos e em fêmeas gestantes”, alerta o veterinário.